terça-feira, 15 de setembro de 2009



Ela fazia de tudo pra que ele saísse ileso de toda aquela situação, mas parece que seus dias já estavam contados. Ela o tratava com toda dedicação merecida. Alimentava-o de lembranças dos seus dias mais doces. Relembrava as histórias em que ele foi o personagem principal dos seus contos.

Todas as vezes que as forças lhe faltavam, era ela quem o colocava no colo, acalentando-o como quem protege sua cria. Ressuscitando-o com a transfusão do seu calor. Ela fazia aquilo de maneira solitária e solidária. Ofertando pequenos fragmentos dela em troca da certeza de que ele nunca morreria.

Mas dia após dia ele desaparecia aos poucos. Ela, desesperadamente, pedia ajuda. Mas nada revertia o delicado quadro clínico em que ele se encontrava. Sua morte era certa. Mais cedo ou mais tarde ele iria partir. E ela não acreditava que, aquele que sempre esteve por perto, mesmo que lhe causando certo desconforto, iria deixá-la pra sempre.

Numa manhã de domingo ela se pôs a caminhar nas proximidades da sua casa. Você apareceu, de repente, cruzando a mesma calçada. Vocês sorriram e até se abraçaram. Ela estava linda e radiante como você nunca a viu. Você perguntou por ele, mas ela desconversou. Você acreditou que ele ainda estivesse com ela, respirando com ajuda de aparelhos e que ela não o deixaria morrer por completo. 

Mas era tarde demais. Ele já havia morrido. E a sua morte colocaria um fim a todas as esperanças que vocês tentaram manter. E aquela morte faria com ela pudesse seguir, por fim, em paz o seu caminho.

Você não sabia, mas naquela manhã ela havia confirmado a morte anunciada do Amor.