domingo, 30 de janeiro de 2011

Num vôo seu corpo anunciou os espasmos. 
Num soluço ela completou sua tese. 
Num pisar ela cravou sua luta. 
Num despir-se ela chegou ao céu. 

Ela dança tango com uma violeta entre seus cabelos 
Ela tira par com o ímpar de seus dias azuis 
Ela traduz o que as borboletas falam bem baixinho 
Ela assopra o pólen do amor 

Suas mãos tocam o fundo do lago 
Seus pés saltam em direção ao sol 
Seu olhar pega o trem das cinco da tarde 
E seus dedos dedilham seus eles em dó maior 



A sua casa fica perto daquela estrela brilhante 
O seu trabalho é sonhar enquanto o sangue corre em seu corpo 
Seu devagar é divagar sobre seus contos de ser feliz 
Sua rima é o respirar de sua alma 

E sua alma é o revelar-se nas metáforas de sua poesia

domingo, 23 de janeiro de 2011


Ela se perdeu.
Estava ali, até bem pouco tempo atrás. Mas agora vaga perdida procurando alguma coisa. Uma coisa qualquer que eu não sei o que é.
Ela diz que faz falta. Ela bate no peito. Ela cai de joelho sobre a rua e chora, mas, sinceramente, aquilo não me diz nada.
Eu não sei o que perturba seu andar trôpego, se esbarrando em transeuntes desavisados que não sabem, como eu, o que aquela menina tanto procura.
Ela corre e eu tento segui-la.
Ela foge enquanto os rostos se desfocam à sua frente, se confundindo com a velocidade de seus passos, que mais parecem querer voar.
E voar para longe.
E ela, então, se perde num ponto em que meus olhos não a alcançam mais.
Sem deixar rastros nem explicações para seu ato tão estranho diante da multidão.
Fica a dúvida latente e o vazio da incompreensão.
Na lembrança daquela menina que tentava achar, outra vez, o seu coração.

"...A uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? A nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? Que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? Que farei deste amor que me esvazia e vai remoendo a cor e o sentido das coisas como um ácido? É terrível o horror de amar sem amor como as feras enjauladas.(...)"


Rondó de mulher só - Crônica de Paulo Mendes Campos no livro "O amor acaba".

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011


Defina, por favor, a palavra saudade.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011


"É saudade, então
E mais uma vez
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez
Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi entre as tintas que inventei
Misturei com a promessa que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três
Trabalhei você em luz e sombra
E era sempre:
- Não foi por mal. Eu juro que nunca quis deixar você tão triste
Sempre as mesmas desculpas
E desculpas nem sempre são sinceras
Quase nunca são..."

(Acrilic on Canvas - Legião Urbana)


Hoje você me deu um trabalho danado. Cheguei em casa cansada e você me recebeu com um abraço forte. Tão forte que sufocou aquela saudade esquisita que eu estava de você. Suas mãos afagaram meu rosto com um carinho sem fim. E eu não agüentei. Empurrei-o contra a parede e pedi para que saísse imediatamente dali.

Hoje, incansavelmente, você me deu trabalho. Nossos filhos estavam na sala com olhos fixos em você. Me aproximei para ouvir que assunto poderia ser tão interessante ao ponto de nem perceberem o barulho do meu salto alto a galopar pelo piso de madeira. Você falava da gente, daqueles encontros debaixo de estrelas e nossas tantas coincidências teimosas. Eu quis interromper, mas você sorriu daquele jeito gostoso de quem certamente me dobraria em segundos se eu tentasse desmentir nosso conto de amor. Te chamei no canto e disse-lhe baixinho ao canto do ouvido que era hora de você ir embora. Estava tarde e uma tempestade ameaçava cair. Você poderia adoecer se ficasse um pouco mais... E você se foi. 

Hoje... Eu estava triste e, ao me ver assim, você ficou sem chão. Retirou, então, daí de dentro do seu peito um punhado generoso de alegria. Aquela que a gente havia guardado para que não perecêssemos à má sorte dos dias tristes. E você assoprou-a em minha direção. Nela se emaranhou os sonhos que continham nossa esperança mais bonita e todas as gargalhadas doces que lançamos desmedidamente no espaço. Você me estendeu as mãos e eu te olhei profundamente. Meus olhos lhe disseram - em meu silêncio absurdo - a despedida dilacerante dos amores que se findam. Me despedi e parti.

Eu me pus a seguir sem ter terminado o árduo trabalho de tirar você da minhas tantas projeções, de tudo que meu coração esperou dessa história. Todos os momentos dali pra frente era com você que eu estaria. Nos corredores, nos sofás com almofadas, na grama verde, na formatura, na fila do banco, no altar, nas conversas na varanda, na dor, na foto, nas cores, nos cheiros, nas dúvidas... Você estava nas respostas. Estava na família. Você era o meu olhar. E realçava a melhor parte de mim.

Tirá-lo de cada momento - que nunca existiu - foi mais difícil do que vê-lo ali, na minha frente, sem brilho e sombrio, com um amor em retalhos, minguado e usado, a me oferecê-lo como troco do que sobrou de nós dois.