domingo, 9 de dezembro de 2012

(Santa Chuva - Los Hermanos)

"É...Vai chover, de novo,
deu na tv que o povo já se cansou
de tanto o céu desabar..."
 
Hoje as forças faltaram e meu corpo teimou em sair da cama. A sensação era de ter levado uma enorme surra. Lavei meu rosto e me assustei com o espelho. Nele, meus olhos sangravam as palavras que insistiam em doer. Letra por letra ia escorrendo pelo meu corpo, me inundando de amargura e solidão.

É difícil constatar as lacunas e espaços vazios para diálogos irreais. Nunca saberemos qual foi tom em que escrevemos aquelas tantas falas. Nem entenderemos realmente as respostas para perguntas tão doídas.  Não saberemos para que lado se desviavam os olhos, nem se os lábios tremiam. Não entenderemos se o suor minava as mãos ou se o riso abria caminho para o alívio. Só ficará o remetente e seu destinatário, presos em lixeiras ou caixas de entrada, de amores selados em e-mails enviados.

Nunca contaremos com a memória para resgatar a cena em que fechamos os braços, viramos o rosto, demos as costas e saímos rumo às histórias reais. Nunca saberemos de que maneira isso tudo ficará guardado, de que jeito será contado, qual gosto ficará em nossas bocas para lembrar o que vivemos.

E eu não sei se darei conta de vestir-me e levantar a cabeça enquanto tudo me pesa, enquanto tudo me cansa. Não sei quando terá fim, outra vez, para essas lágrimas salgadas, as noites sem sono, o chiado no peito, a falta de coragem e vontade de seguir. Não agora...

Mas um dia essa dor cessará. Vai sarar como um braço quebrado, aquele joelho ralado, a dor de cabeça que parecia eterna. Vai sarar numa tarde de sol, numa conversa com a amiga, na hora do almoço na casa da tia. Um belo dia olharei para essa cicatriz e não vai doer mais. Já aprendi que tudo sara, tudo seca, tudo passa. Mesmo que não existam remédios ou curativos específicos para isso, o sábio tempo sempre se encarrega de curar a tudo e a todos.

E, lá na frente, quando as coisas estiverem em seus devidos lugares... Quando eu tiver terminado de organizar essas páginas que se soltaram das minhas mãos... Talvez eu consiga olhar para trás com mais ternura e entender um pouco mais sobre essa história. E aí, aquela raiva e mágoa já terão fugido pra bem longe, dando um lugar digno para a esperança voltar e ficar, de vez e dentro de mim.